Em 2001, uma experiência ousada deu inicio a um trabalho que na época não tínhamos a dimensão dos resultados. Apesar de a comunidade saber da existência de um rio em nossa região, poucos conhecem a sua realidade. Esta experiência que envolveu 350 estudantes das escolas em um sábado junto ao rio, em São Leopoldo, fez com que se pensasse em atividades sistemáticas e com o objetivo de vivenciar as questões que envolvessem esse ecossistema.
Trilha da margem e urbana, visitação a exposição fotográfica do Rio dos Sinos, na época no Clube Humaitá, e porque não navegação pelo Rio dos Sinos. Essa ação só foi possível na época porque tivemos o apoio de várias instituições e pessoas físicas que com suas embarcações resolveram participar e mostrar aos estudantes as belezas e tristezas de nosso rio.
O que mais me chamou a atenção, por ser educadora, foram às manifestações recebidas de professores e diretores das escolas que participaram deste dia de atividade, comentando o quanto os seus alunos estavam falando, na escola, sobre o sábado, de quanto o rio é lindo, que tem muito lixo, que as pessoas estão destruindo o meio ambiente, e que todos precisam fazer alguma coisa para mudar o que vem acontecendo. E foi o que mais me motivou, a partir daí não descansei até poder proporcionar essa experiência a um número maior de estudantes. Começamos a fazer um estudo de percurso, de pontos do trajeto que deveriam ser dado maior ênfase, que contextualização deveria ser feita sobre a Bacia e que embarcações seriam utilizadas para que executássemos essa ação.
Começamos com duas embarcações, estagiários e monitores de biologia. Os colegas e parceiros financeiros na época foram essenciais para que obtivéssemos o resultado de 3.500 estudantes atendidos, naquele ano. A cada participação mais informações eram solicitadas, fazendo com que mais tempo nos dedicássemos à pesquisa e construção de uma proposta de qualidade. No ano seguinte, outras atividades fizeram parte complementando os conhecimentos sobre tratamento de água e esgoto, com visitações nas unidades.
Na época, a sensibilidade do Secretário de Meio Ambiente, o Henrique da Costa Prieto foi crucial para a construção de uma embarcação maior, com mais segurança, e que pudéssemos em um período de tempo menor atender mais alunos. Então fomos à luta, planejamos como seria essa embarcação, visitamos e andamos em algumas para sentir como poderia ser o futuro barco que receberia esse projeto. Comissões foram criadas para pensar todos os detalhes como também para captar recursos para a construção do mesmo. Em julho de 2002, o projeto da embarcação foi concretizado e inaugurado, onde passou a se chamar Barco Martim Pescador.
De onze alunos que atendíamos por hora, com embarcações de alumínio, passamos a atender 55 em uma hora e meia. Hoje são realizadas quatro navegações diárias, atendendo projetos que envolvem os municípios da Bacia Sinos, como também de outras Bacias.
Há seis anos desenvolvemos um trabalho que é muito reconhecido, com mais de 60 mil atendimentos. Essa proposta pedagógica, onde a metodologia se reconstrói a cada dia, propõe-se através de uma aula dialogada e vivencial na embarcação, integrar o mundo interno de cada cidadão e seus conceitos sobre meio ambiente e informações sócio-ambientais, bem como a reflexão sobre o resultado de suas ações sobre o ambiente. A base é uma combinação de conhecimentos, valores, sensibilidades e capacidades, fortes o suficiente para motivar a interação e a participação efetiva do ser humano com o meio e com o próximo. Pois, ao trabalhar valores, cada um pode perceber sua essência individual e sua responsabilidade para com a coletividade, alimentando um senso de cuidado com o planeta.
Questionar, refletir, contestar ou aceitar conscientemente determinadas questões pode ser a chave no processo de se pensar em dimensões globais, desde que esse processo estimule ações pertinentes ao contexto local, neste caso o Rio dos Sinos. Ao se perceber inserido em um mundo amplo e pleno de riquezas socioambientais, o indivíduo pode perceber-se como um elemento imprescindível a essa teia da vida. Essa visão contribui para aumentar sua auto-estima, indispensável para que cada um se sinta apto a agir e lutar por ideais maiores, fortalecendo um compromisso de respeito à vida.
É desta forma que os trabalhos desenvolvidos pelo Instituto Martim Pescador têm obtido resultados expressivos, fato reconhecido pelo número de prêmios recebidos nestes poucos anos de existência. Uma das preocupações do Instituto, desde a sua criação, é compartilhar os conhecimentos adquiridos através também da pesquisa. Fazer parte da construção desta história muito me orgulha e, poder ter contado com profissionais tão comprometidos com a vida fez esta proposta ser tão reconhecida, principalmente por professores, que a cada participação nos agradecem por ajudá-los a fazer uma educação de qualidade.
Por Márcia Silvana Zimmer Scherer - marcia.sinos@bol.com.br
Pedagoga-Esp em Gestão Regional de Recursos Hídricos-UFRGS Coordenadora Executiva do Instituto Martim Pescador
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