quarta-feira, 29 de outubro de 2008

QUANTAS VEZES PAREI PARA OLHAR O RIO

O Rio dos Sinos é, sem dúvida, um rio histórico. Habitado por indígenas, foi “descoberto” e, em seguida, há 184 anos passados, virou cenário da primeira colônia alemã do país. Suas margens também acolheram pessoas ilustres, como Padre Réus, Jacobina e Henrique Luiz Roessler, este último, pioneiro da Ecologia no Brasil e criador da primeira organização ambientalista do país, a União Protetora da Natureza (1955).

Em decorrência das enchentes de 1941 e 1965, o Rio dos Sinos ficou famoso e voltou a chamar atenção na década de 70 pela construção do Sistema de Contenção contra as Cheias (composto por diques de terra, casas de bombas, cortinas e muro de proteção). Esta obra, gerenciada pelo Departamento Nacional de Obras e Saneamento, embora com boas intenções, fez também com que a cidade perdesse seu contato com o Rio, mantendo-o prisioneiro em um pequeno espaço enquanto seus banhados eram ocupados por pessoas que só preocupavam-se com o econômico e social, esquecendo-se que não eram os únicos seres vivos da região e que a natureza precisa de espaço (e faz seu espaço).

Se você conversar hoje com um idoso, certamente lhe falará que a Praça do Imigrante era um belo ponto de encontro para casais apaixonados que, em harmonia, contemplavam o Rio em seus momentos de lazer. Ali, também, ocorriam regatas, lavava-se a roupa, abasteciam-se as residências (e ainda hoje são abastecidas), além de ser meio de chegada para mercadorias e pessoas. Pessoas, estas, trazidas através de barcos pelo rio e que, ao invés de preservá-lo, corroboravam para sua degradação, desmatando suas matas ciliares e lançando, ali, seus resíduos e efluentes.

Pois bem, depois de 2006, com a mortandade de peixes (e várias outras espécies animais) o Rio dos Sinos volta a chamar atenção, mas não só ele, o PLANETA INTEIRO! Em função das mudanças climáticas, causadas pelo aquecimento global (que, por sua vez, é conseqüência de nosso uso irracional de recursos naturais), iniciou-se o aparecimento de Ciclones Extra-tropicais na América do Sul. Um destes, que passou pela região na madrugada do dia 03/05, trouxe, além de ventos fortes que destelharam casas, muita chuva para a bacia toda. Esta chuva, com dias de duração, fez com que o rio necessitasse, novamente de seu espaço original (e por Lei defendido).

O que muitos viram, e ainda estão vendo, é mais um pedido do Rio: – Quero meu lugar de volta! Talvez seja isso o que tantos (que passam vagarosamente de automóvel sobre a ponte, ou que se debruçam sobre o muro) ouvem ao chegar em suas margens. Muitos que nunca foram antes ver o rio, ou que passavam diariamente sobre este e não o observavam, hoje, espero eu, tem o tempo das águas baixarem (o tempo do Rio) para refletir sobre suas ações como cidadãos e, sobretudo, seres vivos dependentes da água.

Por Leonardo Francisco Stahnke – leobio@pop.com.br
Biólogo e integrante do Grupo de Educação Ambiental da Unisinos

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